Sei que você me criou com amor para ser uma pessoa incrível...,
mas mãe, me desculpa, eu tenho pensado em suicídio.
Eu já fiz os planos e juntei as drogas, escrevi as cartas de despedida e decidi que essa é a melhor forma para todos nós.
Mãe me perdoa... Mas eu já não tenho forças para seguir em
frente, a vida me dói mais do que eu posso suportar. A vida é dura e você teve
uma filha mole.
Eu sou intensa mãe e o mundo é uma intensidade de coisas
ruins batendo em minha porta e pulando todas as janelas da casa... e minha casa já não aguenta a presença de
tanta maldade.
Eu sangro, pois eu cresci e você já não pode ser meu escudo,
para as pedradas que a vida tem me dado, sei que se eu te pedisse seria, mas
mãe, eu não quero que suas feridas se abram, não quero que sangre como eu.
Mãe, sei que fomos sempre só nos duas, me desculpa te
deixar, mas você não está mais sozinha no mundo, então dessa vez sei que vai
ficar tudo bem, eu prometo.
Lembra do meu aniversário de seis anos, que você comprou
aquele bolo de princesa da Disney e gastou todo o dinheiro que não tinha para
me ver sorrir? Lembra como ninguém apareceu e eu deitei no quintal de casa e
chorei, falando que ninguém gostava de mim? Você gostava e naquele dia nos
sentamos comemos aquele bolo todo sozinhas e eu me senti amada.
Essa poderia ser uma carta de amor, mas mãe, hoje eu tenho
que te dizer adeus. Minha coluna já se curvou diante da rotina de dores que tem
sido me servida e meu estômago é incapaz de digerir mais um dia.
Eu te prometi que um dia escreveria um livro, mas meu dom
virou brisa e ele sempre irá te tocar, mesmo não me tocando mais.
Mãe... tem uns anos que eu venho pensando em suicídio, mas,
mãe.... Eu não queria te deixar só, mas você agora é uma mulher casada e ele me
prometeu cuidar de você. Então não fique triste, ok? Você não está sozinha e
ele não irá sumir ao ir comprar um maço de cigarros como meu pai.
Mãe, não se sinta culpada, você fez tudo que pode, mas mesmo
você sendo uma rainha não pode mudar a rotação da terra e o curso será sempre o
mesmo, e hoje esse curso me levou.
Eu sempre fui um pássaro e sempre
voei por aí, seus joelhos sabem toda a preocupação que causei e os buracos em que
cai, mas mãe, desse buraco que estou agora você não pode me salvar.
Existe uma dor intensa crescendo
dentro de mim, mãe, e dessa vez eu não posso ser salva.
Me desculpa por todas as escolhas
erradas e eu te desculpo por não ser perfeita, mãe...
Sobre o Autor
Andressa Pontes: Sonho em salvar almas despedaçadas como a minha, miro em casos perdidos e sou tão boa de queda quanto de cicatrização. Casada com a impaciência e melhor amiga da falta de atenção, tantos anos que não gosto de contar. Dona do português mais desafinado desse país e fã de poesia. Jornalista e nas horas vagas tiro foto do meu all star em todo canto de SP.
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