Me pergunto se quando ele fala comigo, quando me chama nas
redes sociais é por pena, ele sempre foi bem amável. É a cara dele fazer algo
assim, não por maldade, meio inevitável é um defeito dele, tentar consolar a
dor que causou.
Ele era amável demais, me lembrava minha infância, quando
minha avó me oferecia bolos com excesso de cobertura, quando ainda me poupavam
das verdades, para não entender o que era sofrer. Ele me lembrava noites de
verão, sabe aquelas que você junta todas as pessoas que ama para comer, beber e
rir por horas? Isso é o que ele é.
Sei que em nossa despedida ele foi uma das criaturas mais
frias do universo, ah eu bem sei, eu congelei naquele dia, suas palavras da
brisa macia que sempre foram, tornaram-se nevoa e meu coração que antes era
brasa, virou gelo. Me pergunto se em algum momento encontrarei uma forma de
aquecer o frio que me tomou.
E a “pena, dó, compaixão” que sempre foram os sentimentos
que mais condenei, que mais evitei, foram dos quais sobrevivemos. Foi
exatamente saber da existência deles que mais me destruiu. Amei demais, me
entreguei demais, me iludi demais, chorei demais, infelizmente meu sinônimo
sempre foram os excessos.
Foi muita soma para algo que aos poucos é cada vez menos,
para algo que achava que seria multiplicação. Ao menos, agora, eu sei que posso
seguir em frente. O amor não pode ser individual, não funciona, por isso ele
machuca. As pessoas tendem a ser individualistas e meu problema é que sempre
preferi trabalhar em dupla.
Eu nunca escrevi sobre o que sentia por você, até não poder
sentir mais.