Diário de um suicida




                Em torno de minha vida tentei me matar diversas vezes, desde que ainda era uma criança até os dias de hoje. Talvez por covardia esteja vivo ou apenas eu não queira realmente morrer. Um dia desses me perguntaram, qual é a sensação de querer por um fim em minha vida. Na hora não soube responder, mas agora eu sei.
                Não quero morrer o tempo todo. As vezes consigo apreciar a vida, às vezes quero viver mais do que qualquer um, mas são em momentos tão raros. Se eu realmente fosse um suicida sei que já estaria morto há tempos. Sinto-me vazio. Quando vejo pessoas chorarem não sinto pena, quando vejo vidas esvanecerem não sinto pesar, quando pessoas me decepcionam eu não me sinto mal, não sinto dor, não sinto nada. Como se eu fosse algum tipo de brinquedo.
                Prefiro ficar sozinho para perder-me em devaneios, para não acabar trazendo ninguém para esse meu mundo, cheio de medo e ao mesmo tempo cheio de nada.
                Meu amor começou a se esvaziar ainda criança, quando implorava por amor. Amor dos meus pais ou ate mesmo um pouco de atenção, mas tudo foi em vão. Apenas continuei sendo o bastardo que atrapalhava a vida deles. Tempos depois consegui afeição de uma namorada, mas logo a mesma me deixou. Eu era uma pessoa carente, até mesmo o ar que meu pulmão exalava implorava por atenção.
                Sei que em algum lugar dentro de mim em meio a todo esse vazio tenho esperança de ter algum motivo pra continuar aqui, nem que seja por um momento. Estou sempre sozinho, estou sempre comigo, a maioria das pessoas e suas futilidades me enojam. Mas com a chegada de mais um ano estou prometendo me fazer diferente, tentar ser alguém a ser lembrado, viver ao menos um dia, deixar de ser apenas uma criança de pensamentos suicidas, para ser um adulto cheio de vida.
                Espero conseguir. Espero que consiga me superar, não me enforcar mais todas as noites até desmaiar, não cortar minha pele até a dor fazer lagrimas brotarem em meus olhos, não me encher de atos masoquistas para preencher ao menos um pouco do vazio que está aqui. O vazio que meus pais deixaram; o vazio que eu me permiti ter, o vazio que me cerca em todos os dias. Ele vai ir, vai deixar lugar para o cheio, vai deixar o lugar para alguma rotina.
                Sei que tudo isso não passa de desejos, por isso deixo aqui minhas ultimas angustias. Espero que alguém me ame por essas palavras vazias como eu. Espero que minha mãe chore no meu tumulo, como nunca chorou por mim. Espero que... Não, eu já não espero mais nada.

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Sobre o Autor

Andressa Pontes: Sonho em salvar almas despedaçadas como a minha, miro em casos perdidos e sou tão boa de queda quanto de cicatrização. Casada com a impaciência e melhor amiga da falta de atenção, tantos anos que não gosto de contar. Dona do português mais desafinado desse país e fã de poesia. Jornalista e nas horas vagas tiro foto do meu all star em todo canto de SP.

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