Bom eu tentei variar um pouco o gênero dessa vez, então...



                Hoje em dia as pessoas me veem e pensam que eu sou só mais um garoto rico e mimado. Acreditam que sou mais um sem uma historia. Eu estudo em escolar particular, sou um garoto de sorte, sou atrapalhado, sou desengonçado, sou um garoto de rua, mas quando digo isso ninguém acredita.
                Minha mãe, bem ela não é minha mãe realmente, mas é como se fosse. Minha verdadeira mãe me trocou com um traficante por umas pedras de crack. Eu tinha apenas cinco anos.
                Ele me levou com ele parar morar em um barraco. Foi a primeira vez em que dormi debaixo de um teto, me senti assustado, morava na rua, dormia contando as estrelas.
                Desde sempre me ensinaram a roubar,  aos dez anos o cara que cuidava de mim me entregou uma arma e me ensinou sua profissão. Era o começo de uma criança sem futuro.  
                Aos doze minhas pipas já não voavam no céu. E num dia lindo e ensolarado pela primeira vez roubei a vida de um endividando. Aos 14 ganhei minha bocada, mas pedi para sair daquela vida. Queria ser um pouco normal ir à escola, como um garoto comum. Mas se aquele lugar largasse já era premeditada minha morte.
                O dia da minha liberdade chegou, outros traficantes invadiram a favela. Apesar de muitas vidas roubadas vi nisso uma oportunidade para fugir. Junto do traficante que me comprou desapareci daquele lugar. Logo no começo descobri que ter uma vida honesta é mais difícil do que parece. Ao menos vendendo drogas eu tinha um teto para dormir e comida para comer, agora nem isso tenho.
                Acabei sozinho pedindo no farol, os caras que já me conheciam zombavam de mim e pediam para eu voltar. Por muitas vezes quase aceitei.
                Um dia enquanto trabalhava no farol fui preso, disseram que a culpa era do meu passado, acabei aceitando. Na delegacia contei minha historia para o delegado, ele não se importou com a mesma, porem ele a passou para uma senhora. A senhora que mudou minha vida.
                Sem motivos ela retirou a queixa. Pegou em minhas mãos enquanto chorava. Pediu que eu a acompanhasse até sua casa. Ela era rica, olhou para mim e contou a sua história, disse que havia perdido seu filho para as drogas, eu era o traficante com quem ele tinha contato. Ele havia morrido em um tiroteio na favela. Para ela meus olhos eram como os dele.
                Ela me adotou de papel passado, me fez ser seu filho e hoje eu estudo como qualquer garoto normal. Ela trocou meus trapos por roupas, minha pobreza por carinho e minha revolta por esperança. Bem... Ela tentava tirar algo bom de tudo.  Meu sonho é tirar as pessoas dessa vida assim como ela me tirou.
                A um ano procurava minha mãe biológica e ontem descobri que ela está morta já fazem quase 12 anos. Ela se matou num pequeno momento de lucidez quando notou que havia perdido seu filho. Ao menos foi o que me disseram. Preferia que ela estivesse viva, minhas lembranças dela são tão vagas, uma mulher ossuda segurando minha mão é tudo que tenho.
                Meu sonho é que o mundo mude, para que não existam mais crianças como eu. O mundo precisa de mais mães como a mãe que eu tenho agora. Ao invés de ficar parado com pena, ao invés de ter preconceito e chamar de vagabundo; lembre-se que todos tem uma história, mas nem todos tem uma mãe para confortar quando se tem pesadelos.

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Sobre o Autor

Andressa Pontes: Sonho em salvar almas despedaçadas como a minha, miro em casos perdidos e sou tão boa de queda quanto de cicatrização. Casada com a impaciência e melhor amiga da falta de atenção, tantos anos que não gosto de contar. Dona do português mais desafinado desse país e fã de poesia. Jornalista e nas horas vagas tiro foto do meu all star em todo canto de SP.

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