Estava frente ao espelho me
observando já fazia tantos anos que não me importava com a vaidade. Minha
pele está envelhecida e enrugada, revelando minha idade já muito ultrapassada. Sorri
para ter certeza que meus dentes ainda estavam ali. Ao contrario da maioria das
senhoras não tenho aquelas marcas no canto dos olhos.
Ainda quando criança perguntei a minha mãe por que minha avó tinha aquelas marcas estranhas no canto dos olhos. Ela sorriu gentilmente e falou “sua avó chama de pés de galinha, um dia você também os terá, por que você será uma mulher muito feliz cheia de netinhos que irão lhe fazer essa mesma pergunta, enquanto você sorri para eles”. Não sei por que, mas essas palavras nunca saÃram da minha cabeça. Talvez seja por ter sido minha ultima oportunidade com minha mãe antes dela adoecer e partir.
Ao contrario do que ela disse, não fiz uma famÃlia e não consegui viver meus dias.
Tive uma vida amarga e agora não passo de uma velha chata, que vive entupida de remédios em um asilo. Ao menos queria ter os pés de galinha da minha avó, pra ter um significado nisso tudo, para saber que minha mãe em algum segundo teve orgulho de mim.
Sei que é ridÃculo decidir agora, já devo ter 70 ou talvez 80 anos, parei de contar, não queria me sentir mais impotente. Essa noite completa cinco dias sem meus remédios, e nesses cinco dias só agora me sinto realmente pronta para morrer. Encontrar minha mãe e poder ver seu sorriso macio novamente.
Ainda quando criança perguntei a minha mãe por que minha avó tinha aquelas marcas estranhas no canto dos olhos. Ela sorriu gentilmente e falou “sua avó chama de pés de galinha, um dia você também os terá, por que você será uma mulher muito feliz cheia de netinhos que irão lhe fazer essa mesma pergunta, enquanto você sorri para eles”. Não sei por que, mas essas palavras nunca saÃram da minha cabeça. Talvez seja por ter sido minha ultima oportunidade com minha mãe antes dela adoecer e partir.
Ao contrario do que ela disse, não fiz uma famÃlia e não consegui viver meus dias.
Tive uma vida amarga e agora não passo de uma velha chata, que vive entupida de remédios em um asilo. Ao menos queria ter os pés de galinha da minha avó, pra ter um significado nisso tudo, para saber que minha mãe em algum segundo teve orgulho de mim.
Sei que é ridÃculo decidir agora, já devo ter 70 ou talvez 80 anos, parei de contar, não queria me sentir mais impotente. Essa noite completa cinco dias sem meus remédios, e nesses cinco dias só agora me sinto realmente pronta para morrer. Encontrar minha mãe e poder ver seu sorriso macio novamente.
Uma
noite fria uma senhora, sentada no parapeito da janela observando a Lua, chamaria
a atenção de qualquer pessoa passando na rua, se a mesma não estivesse vazia. Ventava tanto, que seus cabelos crespos e
brancos voavam como se tivesse vida. De repente uma brisa quente e
aconchegante, seu rosto corou levemente, ela fechou os olhos e sorriu como por
um milagre, um ultimo sorriso em sua ultima oportunidade, e dali seu corpo
enrugado caiu e se fez em mil pedaços. Como alguma magia, sua queda pareceu
durar horas e nem um momento ela optou por tirar o sorriso do rosto, e assim
ela se foi. Calma, tranquila e feliz.